quinta-feira, 16 de maio de 2013

- Qual o seu problema? - Disse em tom irritado.
- O meu problema? Você quer saber o meu problema? Você tem tempo bastante porque isso vai demorar tanto quando soletrar uma enciclopédia. 
- Você sempre precisa complicar tudo?
- Sempre. É um dos meus problemas, complicar tudo. Tornar a simplicidade nolandiana do universo em um painel impressionista.
- Precisa também usar tudo que eu falo contra mim?
- Esse seria o próximo problema na minha lista.
- O terceiro problema seria tornar-se absolutamente rude e insuportável quando incitada ao ódio?
- Exatamente. Você vai continuar adivinhando a lista ou a brincadeira acaba aqui?
- Por que diabos eu...
- Por que diabos você ainda fala comigo?
- Por que diabos eu gosto de você?
- Você não acabou de dizer que eu sou insuportável?
- Você nunca baixa a guarda? 
- Eu deveria?
- Você não disse que ia tentar ser diferente?
- A gente tá brincando de "responda uma pergunta com outra pergunta"?
- Se estamos, acabei de perder. Eu vou embora.
- Não! Eu vou tentar ser diferente.
- Eu não acredito mais em você. A confiança é como um cristal...
- Que pode ser monocristalino ou policristalino?
- Você acha que me fazer rir vai mudar alguma coisa?
- Não vai?
- A gente voltou a jogar o jogo das perguntas?
- Eu posso perder dessa vez. Não vai embora.
- Sabe quando você sente que está há dois passos do abismo, e mesmo sabendo que vai cair você não consegue parar de caminhar?
- Senti isso faz um tempo. Agora eu só sinto o vento no rosto e um medinho da morte quando eu finalmente encontrar o chão.
- Quer dizer que você pulou?
- Na verdade não. Eu estava desesperada andando para trás, fugindo do abismo, mas o quanto mais eu me afastava, mas próxima estava da beirada, é como se...
- Não houvesse escapatória...
- É. Então eu cansei de correr. 
- Você pulou então?
- Não. Na verdade, eu não percebi direito, mas parece que algo me empurrou, eu ainda tentei resistir, me segurar nos galhos, no entanto todas as tentativas foram inúteis e aqui estou: em queda livre.
- Você sente como se estivesse voando ou Einstein estava mentido?
- Voar dar um puta frio na barriga e nos deixa desesperados para que nunca acabe e acabe logo simultaneamente?
- Se você se preocupar com o chão, deve ser terrível.
- Eu me preocupo com o chão.
- Por que?
- Por que eu não deveria?
- Porque sempre está lá. É a única certeza que temos no voo.
- Quando você ficou tão esperto?
- Quando você saiu batendo a porta na minha cara, dizendo que eu era estúpido e sem me dar chance de me defender.
- Eu fui muito má?
- Um tanto.
- Perdão...eu estava com raiva.
- Raiva, decepção e tristeza, nas suas próprias palavras.
- Você decorou isso?
- Não só isso, muitas outras partes. Você quer que eu recite para que você saiba o quão má você foi?
- Não precisa. Eu me odiaria se fosse você...
- Naaaa, o que eu ganho com isso?
- Não sei. Não costumo capitalizar meus sentimentos.
- Você pelo menos SABE quais são seus sentimentos?
- Não tenho nenhuma pista.
- Desconfiava...
- Eu apenas me agarro no que me parece mais encorpado e rezo para que seja verdadeiro.
- E você quer que eu confie quando você diz que gosta de mim e quer fazer tudo diferente?
- Quero.
- Por que eu deveria?
- Por que não?
- Por que você está igual. Só está trocando uma obsessão por outra, o tempo todo.
- Agora eu sou obcecada também. Que beleza...
- Você conseguiria, pelo menos uma vez na vida, por um segundo, admitir que tem um defeito? Não precisa ser um defeito enorme, basta ser um defeitinho simples...uma unha encravada, uma celulite.
- Eu não tenho celulite.
- Posso ir embora agora?
- Tudo bem, eu tenho uma celulite na bunda e duas celulites na coxa. Satisfeito?
- Posso vê-las?
- Você quer que eu tire a calça agora? Assim, do nada?
- E o que você quer? Que eu faça um ritual de purificação do espírito ou que eu recite três cantos d'Os Lusíadas?
- Por que diabos eu deveria tirar as calças ouvindo Camões?
- Eu não sei, porra. Se você não tira a calça pra um carra que você corre atrás há dois anos dizendo que quer dormir com ele e que gosta dele em negrito, pensei em tentar algo novo.
- Você não tem idéia de como isso é difícil pra mim...
- Não. Não tenho a mínima idéia. Mas eu sei como é difícil pra mim.
- É? É difícil pra você?
- Não. É uma diversão infinita. Eu adoro criar expectativas de estar com uma mulher que eu acho bonita, gostosa, divertida e inteligente, que diz que gosta de mim de verdade, de verdade mesmo - enfatiza - que ia entender e se interessar pelas coisas que falo e, quando eu finalmente a encontro, ela é uma insuportável. Que me esnoba, nunca sorri...você já percebeu que você  NUNCA sorriu pra mim? Ela que faz com que eu me sinta um estorvo...parece divertido, não?
- Essa sou eu?
- Elementar....elementar...
- Tirar a calça  agora vai mudar alguma coisa em toda essa situação?
- Não. 
- Certeza?
- Sim.
- Você pode parar de ser monossilábico?
- Não.
- Você não tem outra coisa pra dizer?
- Não.
- Eu posso pelo menos te abraçar? Porque eu realmente não sei o que dizer mas meu coração diz que eu devo fazê-lo...
- ... - Ele respira fundo, abaixa a cabeça, vira as costas.
- Tudo bem, eu vou embora. - Fala com a voz truncada, como de quem engole o choro que teima em chegar.
- Pode... -Diz ao ouvir o som da fechadura.
Ela desliza a mão do trinco da porta e caminha em direção a ele.

- Fracasso

Olá querido amigo que sempre me acolhe quando mais preciso. Senti tanto sua falta. Só vc consegue compreender quando estou precisando desabafar e só vc consegue me dizer o que eu realmente tenho que ouvir. Estou triste, é fato. Por isso estou aqui, pra desabar com as palavras já que estou sem lagrimas... Eu fracassei, e o fracasso sempre esteve presente em minha vida, sempre foi uma das opções. Mas nunca me ensinaram a fracassar. Sempre provei do gosto do sucesso que temperava minha boca como uma comida deliciosa apos horas sentindo fome. E então agora que cai em mim, que todo o torpor passou, senti no fundo da garganta o amargo sabor do féu do fracasso. Se falo de alguem especifico? Nao. Falo de muita gente. De gente que decepcionei. Que devia ter feito diferente e nao o fiz. Que simplesmente me calei e me acomodei e esperei passar. Escolhi o lado mais fácil. E doeu. O lado mais facil não era tão facil assim. Gostaria de chorar, ouvir uma musica depressiva e olhar pro nada imaginando mil coisas. Pensar em alguem que poderia ter me feito mais feliz ou que eu poderia ter feito ser "o" alguem de minha vida. De pensar em prioridades e erros cometidos repetidas vezes. Em sentimentos insuficientes pra seguir adiante. Mas não. Me recuso a provar o sabor amargo na boca do fracasso, da dor, do sofrimento rasgando minha garganta e dilacerando minhas entranhas . Sou forte. Pequenina, mas forte. E não me dou o direito de cair, mesmo quando ja estou no chão. Precisava escrever. Colocar pra fora o que nunca esteve dentro de mim. Sentir algo, mesmo que fosse só um friozinho na espinha. De medo, angustia ou de tudo ao mesmo tempo. Nao sei pq escrevo ou para quem. Talvez pra salvar a vida de alguem. A minha propria!
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